quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha: Remake ou Reboot?

Eu não entendo por que tanta gente tem frescura quando anunciam um remake, ou reboot de algum filme famoso. Histórias são contadas e recontadas inúmeras vezes desde o princípio da humanidade. A jornada do herói (ou protagonista) é instrumento de estudo e também serve como base para construção narrativa em diversas mídias de entretenimento cultural. Uma mesma história pode ser contada de diversas maneiras, desde que se respeite a “identidade” dos personagens. Por isso acho estranho que um personagem tão popular como o Homem-Aranha vem sofrendo preconceito nesta nova versão no cinema.


Para quem acompanha o personagem sabe que diversas reedições foram feitas nos quadrinhos, desenhos animados (acho que é o super herói com maior número de versões animadas) e nos games. A trilogia do Sam Raimi é muito boa e funciona muito bem como uma saga com início, meio e fim. Então o que há de mal em recomeçar a mesma história? Percebi que muita gente reclamou sobre o fato deste filme precisar contar novamente uma origem que já foi bem estabelecida, quando poderiam recomeçar a saga do Homem-Aranha com ele já transformado em herói. O Espetacular Homem-Aranha é bem diferente da primeira adaptação cinematográfica. É outra origem, uma diferente interpretação do personagem, não existindo uma “repetição” da mesma história. É a mesma coisa comparar os filmes do Batman dirigido pelo Tim Burton contra a versão mais recente feita pelo Christopher Nolan. São propostas de filmes diferentes, feitos em épocas distintas, como é o caso do Espetacular Homem-Aranha. Nesta versão, vemos um Peter Parker menos “alegrinho” e mais “humano”, com conflitos internos mais reais. Ainda é um filme de super-herói que segue a “cartilha básica” do gênero, sem muitas inovações narrativas, apenas mostrando um “ponto de vista” diferente na origem do Homem-Aranha.


No filme de 2002 existia a seguinte formula: Pessoa Comum + Elemento Extraordinário (Picada da aranha “mutante”) + Trauma/Perda (morte do tio) = Transformação em Super-Herói. A idéia do primeiro Homem-Aranha era do herói improvável, moldado pelo acaso extraordinário, quando a lição (moral) que precisava aprender é que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Não existiam grandes conflitos internos no personagem, que não fossem além do amor platônico pela Mary Jane. O antagonista, o Duende Verde, não chegava a fazer um contraponto com a personalidade do herói, representando o clichê de vilão dos quadrinhos que só traz caos e destruição. Apesar de ser muito bem interpretado pelo Willem Dafoe o Duende Verde era mais ameaçador quando estava sem a “roupa de vilão”, sendo apenas o insano Norman Osborn. O romance entre Peter Parker e Mary Jane só engata no segundo filme, quando a identidade do herói é descoberta pela “mocinha”. Enquanto neste reboot vemos Peter Parker tentando descobrir suas origens (o desaparecimento dos pais e a pesquisa que estavam realizando), flertando com a Gwen Stacy (a primeira namorada do herói nos quadrinhos) e transformando em herói gradativamente. Existe uma motivação do protagonista em descobrir sua “identidade”, sendo muito maior do que ser o super herói que “salva o dia”. O antagonista, o Lagarto também tem a sua motivação na trama e acaba sendo o contraponto ao protagonista algo que não houve na primeira versão. O Lagarto não é a única ameaça ao herói. A polícia também o caça por ser uma “ameaça ao sistema”, pois nem todo mundo é a favor do Homem-Aranha. O romance flui muito melhor que em toda a trilogia do Sam Raimi e é possível ter uma maior empatia a este novo casal. Os efeitos especiais, é óbvio, estão bem mais interessantes e com o 3D às vezes chega a causar vertigem. Não quero falar mais do filme para não soltar spoilers.


Se o Espetacular Homem-Aranha é melhor que o primeiro Homem-Aranha de 2002? Acho injusta tal comparação. Considero esta versão bem mais interessante que a primeira, mas a trilogia do Sam Raimi também é inesquecível. É diferente do que aconteceu com Superman – O Retorno em que o filme era quase um remake do primeiro, dirigido pelo Richard Donner. Se for pra fazer um remake, ou um reboot, que seja uma proposta diferente da versão original. Histórias precisam ser revistas e recontadas. No caso dos super-heróis também precisam ser atualizadas. Cada época existe uma maneira de encarar a “necessidade de ter um justiceiro”, com o herói certo para cada contexto histórico. Sejam os super-heróis voltados para o entretenimento (Os Vingadores), como também servindo de reflexão, ou catarse (Watchmen e Batman – O Cavaleiro das Trevas). Só acho chato um bando de pseudo-nerd ficar implicando com as mudanças no “cânone” de suas histórias favoritas, achando que não existe espaço para uma diferente interpretação em uma adaptação. Pois quem conta um conto aumenta um ponto.


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