terça-feira, 19 de junho de 2012

Prometheus e o medo do desconhecido

Antes de iniciar o comentário, peço desculpas por não ter postado quase nada na ultima semana. Eu estava preparando um texto para o blog, quando o HD do meu notebook deu problema. Infelizmente, não tenho hábito de fazer backup. Rezo pra não ter perdido todos os meus arquivos. Enquanto a situação não se resolve, sou obrigado a me virar com o notebook da minha mãe.

Volto ao assunto principal, o filme Prometheus, mais conhecido como o prelúdio de Allien – O Oitavo Passageiro. Não irei fazer uma crítica, ou comentário, sobre se o filme é ruim, ou não. Peço que assistam e tirem suas próprias conclusões. Eu particularmente gostei muito do resultado, mas não é sobre isso que eu irei discutir.

Quando assisti Prometheus me lembrei da importância do suspense em um filme. Não falo apenas do gênero em si, mas em como se constrói o suspense dentro de uma narrativa cinematográfica. Pois todo filme existe uma premissa, algo que indique previamente o que poderá acontecer. No caso de Prometheus existem duas: A primeira é mostrar a “origem” da criatura conhecida como Allien; e a segunda, é a busca sobre a “nossa origem” em outro planeta. Como é um filme de Ficção Científica/Terror, espera-se muito suspense (com direito a cenas chocantes) e algum tipo de reflexão. O grande problema e desafio do filme: Como contar uma história que antecede outra, já conhecida, sem cair no óbvio e no previsível? Será que Prometheus se sustenta como filme sozinho? Acredito que além de ser um filme que é parte de outra saga, também tem outra “mitologia” a ser desenvolvida. E o suspense vem quando já não sabemos o que virá depois. Não se trata de um quebra cabeças entre um filme e outro, mas de outra história que está sendo contada. Não se preocupem... Prometo não contar nenhum spoiler neste texto.

O título do filme é uma referência ao mito de Prometeu, um titã que enganou Zeus para dar o fogo divino à humanidade. Sua saga mitológica simboliza a busca pelo domínio das forças naturais (como o fogo), como também o princípio da civilização. No filme, Prometheus é o nome da nave financiada por uma corporação (a mesma Weyland presente nos outros filmes), que busca respostas científicas sobre a origem da vida na terra. Cada personagem tem sua motivação específica e o conflito surge entre eles, quando se deparam com o desconhecido. Nós, espectadores sabemos que algo ruim irá acontecer com eles. O que não sabemos, é como as ações dos personagens irão desencadear o surgimento do Allien. Talvez seja este o motivo de ter gostado bastante do filme. Não sou fã hardcore da saga Allien e também não sei todos os detalhes para fazer uma comparação minuciosa entre os filmes. Gostei de Prometheus pelo seu elemento surpresa. Havia momentos em que esquecia de preocupar com as “respostas”, para querer saber como os personagens escapariam daquela situação. Isto faz parte de um suspense de verdade e não um monte de sustos gratuitos. O bom do suspense é não saber o que irá acontecer. É ter medo do desconhecido. Matar os personagens de maneira chocante já não é o suficiente. Entretanto ao tirar a vida de um personagem através do extraordinário (ou do que é estranho), pode gerar mais medo do que a morte em si. O problema do gênero Suspense/Terror é que após algumas renovações (de enredo) acaba por fim caindo na banalidade (no previsível e óbvio). Fiquem tranqüilos, que Prometheus não é apenas um “terror espacial”, pois sobra bastante espaço para o desenvolvimento da ficção científica. Existem vários elementos sobre a suposta origem da vida na terra, que formam uma nova mitologia cinematográfica tão rica quanto os demais filmes da saga Allien. E o 3D funciona bastante na imersão da história.




Eu fico por aqui. Se eu continuar, posso talvez estragar a experiência de quem não viu. No próximo texto falarei mais sobre esta nova “safra” de ficção científica saindo agora nos cinemas. Abordarei também as polêmicas diante dos remakes, prequels e dos reboots cinematográficos.

Até breve!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nada se Cria... Segunda Temporada (parte 3)

Nesta terceira parte serão apresentadas algumas das mais famosas adaptações de sucessos mundiais, feitas para o mercado cultural do Japão. Procurei desta vez não me basear apenas pelo trash, mas acabei trazendo algumas releituras (que não são plágios) de algumas obras culturais, que também fizeram sucesso fora da terra do sol nascente. O critério de seleção desta lista foi classificar o sucesso destas versões, em comparação com a importância do conteúdo adaptado. Nenhum dos exemplos citados ficou restrito ao nicho de mercado asiático, como foi o caso das adaptações da Índia e da Turquia.

O primeiro vídeo que apresento desta seleção, é o seriado do Homem-Aranha adaptado para o padrão de super-herói japonês. Este é único vídeo trash desta seleção. Mas se pensarem melhor, o que seria do Homem-Aranha se tivesse sua versão brasileira (não dublada) na telinha? Talvez acontecesse uma mistura de Malhação com Os Mutantes (a novela e não a banda). Se bem que este Homem-Aranha do Japão por não ter muita relação com o “original”, acabou chamando atenção de muitos fãs do aracnídeo espalhados pelo mundo. Alguns boatos dizem que a armadura do Duende Verde do primeiro filme, teve uma leve influência dos “monstros” do seriado japonês. O mais interessante é que o próprio criador Stan Lee considera esta versão melhor que o seriado americano, pelo menos em termos de produção. E quanto a história? Segue o mesmo padrão de roteiro “consagrado” pelos heróis japoneses. Confira a abertura deste seriado.


Quando comentei sobre a versão turca do filme Star Wars me esqueci de mencionar que existem outras versões inspiradas na saga de George Lucas. No Japão existe o filme Message from Space (não sei a tradução do título original em japonês) que é uma das melhores cópias de Star Wars já realizadas. Os personagens, cenários, batalhas e trilha sonora lembram bastante o primeiro filme da serie, Episódio IV - Uma Nova Esperança. O que impressiona, é que o filme “copiado” foi lançado apenas um ano depois do “original”. Leve em consideração que o primeiro Star Wars demorou alguns anos para ser produzido. Imitar uma história de sucesso não parece difícil, porém fica complicado quando tem que se reproduzir a qualidade dos efeitos visuais de uma produção mais cara. Message from Space consegue manter o nível de qualidade técnica parecido com Star Wars. Agora vem a grande surpresa... George Lucas que já admitiu usar várias referências de diversas obras na criação de Star Wars, também extraiu alguns elementos do “clone japonês” para os demais filmes da saga.




O que eu posso falar da releitura de Metropolis, um clássico antigo do cinema transformado em anime (animação japonesa)? Não se trata de uma reprodução da mesma história e nem uma readequação cultural de uma adaptação. Trata-se, portanto de uma diferente interpretação de uma obra, ou releitura. Criando-se algo completamente diferente, senda uma obra distinta da original. Esta animação em longa-metragem é uma adaptação do Mangá (história em quadrinhos japonesa), que foi inspirado apenas no cartaz e na sinopse do filme. Resumindo, o autor não havia assistido ao filme para recriar Metropolis a sua maneira. Para quem não gosta de animação japonesa, vai se surpreender com a qualidade do filme.


O cineasta Akira Kurosawa é o melhor exemplo de quem sabe adaptar muito bem obras consagradas para o contexto cultural japonês. Existem vários filmes dele que são inspirados em livros famosos. O filme que usei como ilustração é Ran, uma adaptação da obra Rei Lear, de Willian Shakespeare. Prova que é possível recontar a mesma história através da interpretação de outra cultura.



Semana que vem teremos os exemplos de “cópias” do nosso país. Ainda tem vários países que quero abordar e muitos vídeos para serem exibidos. Aceito pedidos e sugestões para as próximas edições desta serie.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Análise de cena do filme Monty Python: Em Busca do Cálice Sagrado

Resgato neste blog um ensaio que eu fiz na época da faculdade (cinema) sobre uma cena extraída do filme Monty Python: Em Busca do Cálice Sagrado. Coloco também o vídeo da cena analisada para melhor compreensão deste ensaio. O texto pode ser um pouco maçante, se comparar com os demais que já postei. Trata-se de um trabalho acadêmico, que teve como objetivo desconstruir um filme a partir de uma cena isolada. Muitos textos sobre cinema que eu estou preparando, devem seguir esta mesma linha, só que com uma linguagem mais leve e pessoal.



Como início deste ensaio, deixo com que Erasmo de Rotterdan faça a introdução a um dos temas abordado, a loucura humana.

“Tudo o que fazem os homens está cheio de loucura. São loucos tratando com loucos. Por conseguinte, se houver uma única cabeça que pretenda opor obstáculos à torrente da multidão, só lhe posso dar um conselho: que a exemplo de Timão, se retire para um deserto a fim de gozar à vontade dos frutos de sua sabedoria”.

A loucura é inerente a todos os seres humanos, seja ela uma válvula de escape para outra realidade, ou também pode ser um modo de como encarar a vida. É também a energia ativa nas ações humanas. Não devendo ser tratada como defeito de personalidade, mas sim, como formador de personalidades e ideologias de cada um.
Na cena analisada do filme, Monty Python: Em Busca do Cálice Sagrado, vemos uma discussão ideológica do rei Arthur com um servo “anarco-sindicalista” e uma serva que não acredita em nenhuma ideologia debatida entre os dois. Usamos da filosofia de Erasmo de Rotterdam, no livro “O elogio da loucura” e de Thomas More, no célebre livro “A utopia”, para exaltar os conflitos existentes na cena, incluindo o ideal de uma sociedade perfeita, idealizado por cada personagem. O filme mostra o que foi a idade média, misturando elementos lendários da saga do rei Arthur e seus cavaleiros da távola redonda, com a própria história do que teria sido a idade das trevas. Os feudos, os reinos, os senhores, os servos, o clero, os cavaleiros em suas cruzadas, o misticismo e outros elementos servem para ilustrar esse período histórico.
No início desta cena, temos um plano aberto com o rei Arthur entrando no feudo, juntamente de seu cavalo “imaginário”, onde seu ajudante é quem simula o som do galope com as batidas ritmadas dos cocos vindo das andorinhas do sul (ou seriam do norte?). Uma trilha sonora “heroica” da ênfase na continuidade da jornada, na busca dos cavaleiros que serão seus fiéis aliados. Neste momento, o mais importante não é o rei Arthur, mas sim dois servos que estão trabalhando na terra. Tais personagens servem para mostrar outra visão da sociedade medieval. Os servos não parecem se importarem com a presença do rei. Muito menos o rei está interessado com o que os servos estão fazendo. Apenas o ajudante do rei continua cumprindo sua função de continuar batendo os cocos e carregar os suprimentos do rei. Outra postura importante é a do rei que está ereto, com o peito estufado e de olhar acima dos demais, exibindo uma falsa ideia de superioridade. Enquanto o seu ajudante tenta acompanha-lo devagar, com olhar reto, sempre cumprindo sua função, sem haver qualquer mudança de comportamento, por apenas obedecer ao rei. “Não há escravidão mais vil e repulsiva, mais desprezível do que aquela a que se submete essa ridícula espécie de homens, que não obstante, costuma ganhar para si de alto a baixo, o resto dos mortais”. Os servos por sua vez estão curvados, sempre olhando para baixo, não como uma reverência ao rei, mais sim pela alienação ao trabalho. 
Tudo o que foi descrito no parágrafo anterior, referente ao primeiro plano, serve para situar o espectador no contexto histórico, dentro dos temas que serão abordados durante toda a cena. No plano seguinte entendemos o motivo do Rei Arthur estar cavalgando naquele feudo, quando vemos um castelo ao fundo. Sabemos que seu objetivo é chegar lá, mas para isso precisa perguntar para um servo, sobre quem é o cavaleiro (considerado como parte da nobreza medieval) daquele castelo. Pois quando o rei tenta pela primeira vez entrar em contato com o servo, começa o conflito que será o ponto de discussão principal da cena. Primeiro ele confunde o servo, que está puxando uma carroça, com uma mulher, por não poder identifica-lo por estar de costas, coberto de pano velho por todo o corpo. Vemos o servo ofendido que não responde a pergunta do rei e diz que não é uma mulher, muito menos um velho. O rei tenta apenas chama-lo de homem, mas o servo insiste em dizer que ele não é um servo qualquer, pedindo para que chame pelo nome, Denis. O servo apenas quer ser reconhecido como um indivíduo e não como mais um no meio da multidão. O rei tenta se redimir mais ainda justificando sua confusão, por não conseguir identifica-lo só porque estava por trás dele, apenas com toda aquela roupa que dificultava ainda mais tal reconhecimento. Mesmo assim Denis não se convence e reclama que o confundiu só porque trata os outros como inferiores. Arthur explica seu tratamento de superioridade, porque ele é o rei e isto faz parte de um comportamento de como um rei deve ser. “Consiste as obrigações de um homem que é posto a testa de uma nação. Devem dedicar-se dia e noite ao bem público e nunca ao seu interesse privado; pensar exclusivamente o que é vantajoso para o povo; Ser o primeiro a observar as leis de que é autor e depositário, sem desviar-se nunca de nenhuma delas.”. Irritado Denis confronta o rei, dizendo que não acredita naquela hierarquia social que é imposta a ele, colocando como um explorador da classe trabalhadora. Durante este percurso, em que o rei está seguindo Denis, na tentativa de arrancar uma informação, os dois param perto do barro, onde está uma serva (que é interpretado por um homem), onde a reconhecemos pela voz. A serva ajoelhada no barro cumprimenta o rei, sem saber quem ele é. O rei se apresenta e em seguida faz para ela, a mesma pergunta que fez para Denis. A serva intrigada, pergunta para Arthur: “Rei de quem?”, desconhecendo a valor da hierarquia social dentro de sua realidade. Para os servos o rei é apenas um forasteiro, um intruso que age com preconceito diante de outra realidade.
Assim começa um debate de perguntas, na qual o rei tenta explicar que ele é o senhor de todos os feudos dos bretões. Mesmo assim a serva desconhece quem são os bretões. Ele explica que ela também faz parte deste reino e por consequência lhe devia obediência. “Todos vós estais convencidos, por exemplo, de que um rei além de muito rico, é o senhor de seus súditos”. Os dois servos estão trabalhando na lama (uma representação dos recursos escassos que os camponeses têm para sobreviverem), ela coloca para o rei que toda aquela explicação não condiz com sua realidade: “Rei? Eu não tenho nenhum rei. Eu vivo numa sociedade de coleta autônoma”. “Por conseguinte, são perfeitamente felizes os homens que, sem ter qualquer relação com as ciências especulativas e práticas, tem como único guia a natureza, a qual não possui nenhum defeito e nunca deixe que se percam os que seguem fiel e exatamente os seus passos, sem a pretensão de sair dos limites da condição humana”. Para a serva, o seu mundo se resume apenas no trabalho para a sobrevivência e não na ideologia de coletividade anônima de Denis. Portanto a presença do rei não afetaria em nada o modo como ela vê o mundo, preferindo viver indiferentemente a tudo isso. 
  Ao contrário do pensamento da serva, Denis coloca-se como ser crítico diante da realidade, com um discurso engajado. Ele se refere, como um membro de uma “autocracia”, que por sua vez tem sua estrutura funcional. Pois apesar de renegarem a figura de um mandante, a tal sociedade idealizada tem sim seus líderes (escolhidos de maneira democrática), que revezam suas funções dentro da comunidade. “Utopia é toda proposta ideal de organização da sociedade em que, por meio de novas condições econômicas, políticas e sócias, se pretende alcançar um estado de satisfação geral”.  Ao contrario do pensamento utópico, o marxismo (embutido no discurso de Denis, por ser pragmático) prefere empregar a ideologia em suas ações para reorganizar uma sociedade. Mesmo assim, as duas ideologias propõe uma quebra na divisão de classes dominantes. O ponto de vista de Denis mostra também uma “gênese” de como seria a formação da burguesia. Havia uma oposição ao controle feudal dentro dos burgos, onde acontecia o livre comercio, com os produtos vindos do oriente. Com o crescimento dos burgos, diversos feudos foram extintos, iniciando o fim do período medieval. Séculos mais tarde aconteceu uma nova revolução burguesa na França para derrubar a monarquia, sendo inseridos socialmente os ideais iluministas, que muito assemelham em teoria com o discurso de Denis. Inclusive o trabalho dos dois servos no barro, pode significar neste ponto de vista o princípio da construção do que seriam os burgos, os muros que os separavam da sociedade e estilo de vida medieval.
A serva ignora também discurso de Denis, pois novamente aquela ideologia não afeta a sua realidade. Fica evidente que ela não participa diretamente de nenhuma das duas versões de sociedade (o feudo e autocracia). Pois quem realmente tinha naquela época conhecimento das extensões dos poderes que o rei possuía por todo o seu reino e se realmente importava em conhecer a estrutura de uma sociedade feudal para sobreviver? A extensão de um feudo podia ser tão grande que era possível ter existido camponeses que ignoravam a ideia de uma hierarquia social. Mesmo assim Arthur insiste em convencê-los de que ele é o rei (mesmo que nenhum deles tenha votado), o escolhido para ser o senhor do reino perfeito. Uma alusão messiânica, do que seria a volta de um escolhido na salvação da humanidade. Arthur acaba contado a lenda de Excalibur, utilizando de simbolismos religiosos e mitológicos. “Portanto a verdade é que os outros deuses não são tão bons e benéficos para todos os mortais, sendo a loucura a única deusa que acumula de favores todo o gênero humano”. Denis zomba da lenda, mostrando que nada disso afetaria sua realidade e o que Arthur falou não passam de loucuras. Arthur fica irritado, descendo do “morrinho” (ou rebaixando seu nível de nobreza), para bater em Denis, que começa a gritar: “A violência é inerente ao sistema!”. Então neste mesmo plano aparecem mais dois servos, que quase não ficam em quadro, fazendo com que Arthur desistisse de confrontar as ideias de Denis e continuar sua jornada.
E a dúvida sobre o castelo, que tanto o rei queria saber? Na verdade ficou sem solução, pois Arthur se irrita e se segue viagem na busca dos cavaleiros. Seria aquele rei do castelo, um senhor feudal? Quem sabe um cavaleiro ausente na proteção do feudo? Ou seria aquele um castelo vazio, mostrando que aquilo seria apenas um símbolo de poder invisível? Todas essas hipóteses podem ser aceitas, servindo como explicação para o distanciamento dos servos com essa hierarquia de classes.
 Mas nada disso importa, pois estamos trabalhando no campo imaginário e também da loucura dos personagens. Não temos uma verdade em jogo, mas sim três pontos de vistas divergentes, com várias vertentes de interpretações. Pois o ideal medieval era apenas uma loucura da alta hierarquia, que pensava ter controle absoluto do povo. Porém a alta hierarquia não imaginava que pouco a pouco os camponeses iriam se rebelar contra o sistema, acabando com o feudalismo. O heroísmo de Arthur também é ridicularizado com o cavalo imaginário, que na verdade é um homem batendo os cocos para simular um galope. “Mas não será também verdade que a loucura foi autora de todas as famosas proezas dos valorosos heróis que tantos literatos eloquentes elevaram as estrelas? É a loucura que forma as cidades; Graças a ela é que subsistem os governos, a religião, os conselhos, os tribunais; E é mesmo lícito asseverar que a vida humana não passa, afinal, que uma espécie de divertimento da loucura”. Os servos em total discordância, mesmo vivendo a mesma realidade, cada um tem sua própria personalidade e distinção para acreditarem no que quiserem. O castelo pode representar que não há rei, apenas personagens que acreditam em suas funções, pois não há ninguém superior comandando-os de verdade. Há muitas hipóteses e muito que ser aprofundado nas leituras de cada personagem, mas eles nos lembram de que nada deve ser levado muito sério, principalmente o filme.

“Querer, porem, acabar com essa ilusão importaria em perturbar inteiramente a cena, pois os olhos dos espectadores se divertiam justamente com a troca das roupas e a das fisionomias. Vamos à aplicação: Que é afinal, a vida humana? Uma comédia. Cada qual aparece diferente de si mesmo; cada qual representa seu papel sempre mascarado, pelo menos enquanto o chefe dos comediantes não faz descer do palco. O mesmo ator aparece sobre varias figuras, e o que estava sentado no trono, soberbamente vestido, surge em seguida, disfarçado em escravo, coberto por miseráveis andrajos. Para dizer a verdade, tudo nesse mundo não passa de uma sombra e de uma aparência, mas o fato é que esta longa comedia não pode ser representada de outra forma”.  

Citações extraídas dos livros:
- O Elogio da Loucura: Erasmo de Rotterdan
- A Utopia: Thomas More

terça-feira, 5 de junho de 2012

Nada se cria... Segunda temporada (parte 2)

Continuando a serie de adaptações (ou plágios) dos sucessos mundiais para o mercado regional (do país). Nesta segunda parte irei abordar o cinema da Turquia e suas versões para os grandes sucessos da cultura pop. Se na Índia existe o cinema bollywoodiano, na Turquia existe o Yesilçam, que segundo o Wikipédia significa “Verde Pinho” (uma referência aos outros polos de cinema mundial). Diferentemente do que acontece em Bollywood, o cinema da Turquia não é de musicais e nem tudo que é produzido no Yesilçam é adaptação de outros mercados. Entretanto para competir com os filmes de Hollywood, o cinema turco teve que produzir suas próprias versões de filmes e seriados consagrados. Existem algumas versões desses sucessos que até ficaram bem feitas, enquanto outras ficaram como cópias toscas que não deveriam ter sido produzidas.

O primeiro exemplo é de uma versão ruim de Star Wars. Não se trata de uma adaptação, ou cópia do enredo consagrado por George Lucas, mas sim uma colagem de cenas extraídas (literalmente) do original. O título deste Star Wars da Turquia é “O Homem que veio do espaço”. E que isso tem haver com Luke Skywalker e Darth Vader? Nada! Como já falei, tem cenas do Star Wars inseridas no filme, juntamente com o tema do Indiana Jones tocando o tempo inteiro. A história do filme pelo menos é boa? Tentei assistir ao filme e confesso que não consegui entender nada (independente do idioma). Assista estes dois vídeos e tirem suas conclusões:

Neste primeiro vídeo é mostrado a abertura do filme, onde aparece as cenas "coladas" do filme original

E para finalizar o "Star Wars da Turquia" mostro a cena do treinamento do herói do filme, com a trilha do Indiana Jones. É uma das cenas mais toscas que já vi na minha vida.


Na semana passada eu apresentei o Superman indiano, nesta semana vocês vão conhecer o Superman da Turquia. Esta versão não é uma avacalhação do herói, como foi aquela presepada de Bollywood, conseguindo ser fiel ao personagem, apesar das limitações técnicas da produção. Acredito que este Superman não é um plágio, mas sim uma adaptação para o publico turco, valorizando um pouco da produção nacional. 


Outra adaptação que ficou fiel à versão original, foi o Star Trek (ou Jornada nas Estrelas, para os fãs mais antigos) da Turquia. No início achei que era a serie original dublada, mas quando eu vi o Capitão Kirk turco, soube que se tratava de uma adaptação. Tirando o elenco ruim (o Kirk desta versão consegue ser mais canastrão que o original), a produção conseguiu reproduzir bem a essência da serie.


Outro sucesso adaptado para o cinema da Turquia é o filme “O Exorcista”. Não se esta versão é um remake, ou um plágio. Este filme foi o único (do cinema turco) que conseguir assistir na integra (as legendas em inglês ajudaram bastante). A história tem sim suas semelhanças com o original, mas tem uma trama que aborda o mesmo tema de maneira bem diferente. Neste trecho apresentado tem um confronto do exorcista com a menina possuída. Notem que pelas limitações técnicas, a menina não gira a cabeça em 360 graus e nem se contorce toda, limitando-se apenas aos efeitos de maquiagem e uma atuação que parece uma imitação da atriz original. 



E para finalizar, apresento a versão turca do filme ET. Posso considerar com certeza que trata de um plágio, ou uma cópia mal feita, usado para se promover em cima do filme original. Aliás, o ET neste filme parece uma bosta falante. Ruim demais! 

Semana que vem tem mais vídeos da serie Nada se cria... Espero que tenham gostado desta seleção. Estou garimpando vídeos do mundo inteiro na tentativa de compor os temas de cada semana. Aceito também sugestões de temas para esta serie. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Revolução 2.0

Dando continuidade ao texto, “A Torre de Babel digital”, retomo a discussão sobre a importância das redes sociais dentro da nossa sociedade globalizada. Ao mesmo tempo em que temos total liberdade de expressão na internet, ainda sofremos dificuldade de nos fazer entender no mundo real. Até que ponto as redes sociais ajudam na nossa vida real?

Quando usei a internet pela primeira vez aos dez anos (acredito que foi 1996), fiquei fascinado com a capacidade de respostas imediatas durante a navegação. O conceito das primeiras salas de bate-papo era bastante atraente: poder falar com várias pessoas de diversos lugares ao mesmo tempo, poderia ser pra mim uma nova possibilidade de fazer amizades. No fim acabei não fazendo amigos em nenhuma sala de bate-papo convencional. Só que neste retrospecto, não posso esquecer da rede social mais antiga da internet: o e-mail. Poder mandar “cartas virtuais” para quem eu quiser, sem precisar comprar envelope, selo e esperar a entrega do correio, era o máximo da velocidade do mundo moderno (daquela época). Tudo começou a mudar no início deste século, quando a internet ficou mais difundida mundialmente e as primeiras redes sociais começaram a se organizar melhor. O Mirc, apesar de ser graficamente pobre (considero o “Atari” das redes sociais), conseguia organizar melhor a bagunça das salas de bate-papo, dividindo em vários canais de relacionamentos. Enquanto isso, o uso do e-mail passou ser mais ativo, havendo manifestações e protestos compartilhados por toda rede. Como consequência veio também às primeiras correntes da “paz”. Estimulando todos a encaminharem aquela mensagem de amor e esperança, para que o mundo pudesse mudar. Quanta ingenuidade! E o que falar sobre o compartilhamento de música pelo napster, ou o Kazaa? O fenômeno do compartilhamento do MP3 mexeu totalmente com a estrutura da indústria fonográfica mundial. O nosso comportamento estava mudando com a internet, quando tudo antes era novidade e diferente, agora passou ser parte fundamental em nossas vidas (como diria o Faustão: “Tanto no pessoal, quanto no profissional”).

A consolidação das redes sociais e das redes colaborativas ajudaram difundir o conceito da internet 2.0. A informação que já não era mais centralizada passou a ser compartilhada. A verdadeira revolução digital não veio da ciberativismo, mas sim do crowdsoursing. Vou tentar resumir um pouco sobre estes dois conceitos comuns da web. Posso afirmar que o ciberativismo é derivado do crowdsoursing, pois ambos tem a necessidade de solucionar pequenos e grandes problemas, com ajuda de várias pessoas conectadas pela mesma causa. O crowdsoursing está presente no Wikipedia e outras redes colaborativas. É a construção de uma plataforma digital, sem haver a necessidade de um órgão econômico e centralizador por trás da proposta inicial. Enquanto ciberativismo usa as ferramentas das redes sociais para confrontar os problemas do mundo real. Correntes online não é ciberativismo. E nem sempre a motivação do ciberativismo é de resolver problemas, podendo também ser um grupo organizado para denunciar as mazelas da sociedade. Um exemplo do novo ciberativismo é o Wikileaks, que é um órgão de denuncia e não um “solucionador de problemas”.

Nosso poder em expor as falhas sociais é muito maior que há uma década. Com nossas câmeras de celulares (até com os modelos mais fajutos) conseguimos flagrar abusos morais e compartilhar por toda rede, sem que haja uma censura de informação. Temos o poder em nossas mãos, mas ainda não sabemos como usar com eficiência. Este é um novo desafio para o surgimento da terceira geração da internet (3.0), que precisa superar a torre de babel digital, para que os novos movimentos sociais não fiquem limitados aos cliques de um mouse.

Deixo alguns vídeos que aprofundam melhor este tema sobre as redes sociais:




domingo, 3 de junho de 2012

A Torre de Babel digital

Ao ler o prefácio do livro, “Contos Fantásticos – O Horla e outras histórias”, do autor Guy de Maupassant, me deparei com esta frase: “O homem é um ser estranho para si mesmo, o outro é um abismo”. A comunicação tem sido a base para nossa sobrevivência social, como também é um desafio constante superar tais limitações para o bem estar coletivo.  Sabemos nos relacionar em comunidade, mas ao mesmo tempo, temos dificuldade em compreender o comportamento de estranhos. Quando olhamos para o “outro”, estamos observando através de nossas experiências subjetivas. Talvez o mandamento que nos obriga a “não julgar o próximo”, torna-se algo humanamente impossível. Pois somos bastante vulneráveis a fazermos julgamentos preconceituosos constantemente. O problema acontece quando o preconceito vira intolerância e as diferenças acabam virando barreiras sociais. E na era da internet 2.0, tudo ganha uma dimensão maior. Nunca estivemos tão conectados e distantes ao mesmo tempo.


“Compartilhar a vida. Eis um grande desafio em tempos de hipervalorização da individualidade e de enfraquecimento dos laços. Enfrentamos uma época de contradições em que, por um lado, vivemos cada vez mais solitários e por outro, criamos permanentemente novas possibilidades de convivência”.

Estamos vivendo um momento em que podemos ser voz ativa naquilo que acreditamos. Grupos, antes considerados como minoria, agora conseguem reivindicar seus direitos dentro da sociedade. O liberal e o conservador podem expor suas ideias e opiniões livremente nas redes sociais. Possibilidades infinitas de relacionamentos são criadas constantemente nesta aldeia global. Pois no mundo virtual não existem fronteiras e ainda existe muito que explorar neste novo conceito de internet. Porém essa tal liberdade, tem um preço e coloca em cheque nossa convivência dentro do “mundo real”.

“Vivemos, portanto, imersos em um grande paradoxo: Somos seduzidos por um mundo sem fronteiras no qual devemos transitar livremente, mas ao mesmo tempo, nossos passos são limitados pela impossibilidade de fazer circular nossos afetos e seguir ao encontro do outro, sem tantas defesas. Talvez a alternativa para superar tais ameaças, seja reabilitar a amizade e assim reinventar a vida”.

O “grande paradoxo”, como diz na citação, pode estar na polaridade entre o ciberativismo e a trollagem. Podemos nos engajar em diversas causas benéficas, da mesma maneira, como podemos sabotar ideias e humilhar pessoas. Essa divergência de ideias pode ir muito além de uma simples crítica para ofensas gratuitas. Não estou falando do que é politicamente correto, mas sim de uma convivência online. Como separar a crítica, sátira, ou denúncia, da agressão moral? A “moderação” não é censura. Todos os debates de ideias são bem vindos à internet, só que não pode alimentar o “troll” da avacalhação. Xingar, sem argumentar seus motivos é perda de tempo. A internet 2.0 é a rede do crowdsoursing, o que significa soluções compartilhadas. Podemos compartilhar mais que conhecimento e sim criar novas possibilidades para resolver novos e velhos problemas em comum.

Nas próximas postagens irei explorar melhor o conceito de ciberativismo e crowdsoursing, como também falarei mais sobre os novos desafios das redes sociais. Fiquem claro, que não sou nenhum especialista no assunto. Deixo o espaço aberto para o debate e contribuição de ideias. 

(Citações extraídas da Revista Mente e Cérebro; reportagem: O Poder da Amizade http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/amizade.html)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Placebo

Pra quem curte ficção científica, este é um ótimo livro do gênero. É uma mistura interessante, de Blade Runner, com Vampiro de Almas. A história do livro mostra um futuro, onde a humanidade é substituída por "nanohumanos" (uma nova interpretação para os replicantes de Blade Runner), após quase ser extinta por um vírus global. O Placebo, do título serve como pano de fundo para discutir sobre o comportamento humano como um todo. Prefiro não falar muito sobre o livro, para evitar possíveis spoilers. O livro é encontrado nas livrarias Saraiva, ou na internet, no site: http://www.skoob.com.br/livro/222342



Deixo apenas um pequeno trecho contido no livro como aperitivo:
E se todos os humanos acreditassem que devem morrer? 
E se todos começassem a morrer, sem causas aparentes, sem motivos, agentes patológicos, infecciosos... nada que explicasse os óbtos? 
E se ELES, seres não humanos, nossas criaturas, nos fizessem acreditar que chegou a nossa hora? 
E se eles acreditassem que são os culpados? 
E se eles fossem apenas o nosso desejo, tudo em que acreditamos e tudo o que restou de nós?
E se não soubermos quem somos de fato?
E se o placebo não estiver numa pílula?